1 aperta o play e entra na vibe da comparação
Sempre tive a sensação de não ser boa o bastante. Como se, por mais que tentasse, nunca fosse suficiente. A sociedade nos faz acreditar que precisamos ser mais, mas nunca é o bastante. Eu vejo muito disso em Cisne Negro, filme que é, sem dúvida, um dos meus favoritos. Na história, a protagonista, Nina, busca a perfeição de uma forma desesperada. Ela se sacrifica, se perde, e no final, ao alcançar a dança perfeita, diz: "Eu alcancei a perfeição." Mas o que ela não percebe é que a busca incessante por ser perfeita a destruiu por dentro. A perfeição é um espelho que reflete apenas a nossa insatisfação, que nunca deixa a gente descansar, sempre nos empurrando para mais, para além dos limites.
"Eu não sou boa o suficiente… em nada." — Barbie (2023)
Eu não sou perfeita e isso me frusta…
Já me peguei me perguntando se o que eu faço é realmente bom o suficiente. Ou, quem sabe, eu nunca senti que atingi a perfeição em nada, mesmo quando o mundo ao meu redor parece estar todo alinhado.
Recentemente descobri que isso é uma fobia: a atelofobia.
A atelofobia é o medo irracional de não ser bom o suficiente, de não alcançar um padrão de perfeição, seja na aparência, no trabalho, ou até nos relacionamentos. Essa sensação de insuficiência constante pode se tornar paralisante, criando um ciclo de autocrítica, ansiedade e, muitas vezes, procrastinação.
No fundo, é o medo de que tudo o que você faz não seja "suficiente", de que você esteja sempre aquém de suas próprias expectativas ou das expectativas que imagina que os outros têm de você.
A palavra atelofobia vem do grego "atelos", que significa "imperfeito" ou "incompleto", e "phobos", que significa "medo". Esse medo de não ser bom o suficiente pode afetar muitas áreas da vida, e os sinais não são sempre fáceis de identificar. Muitas vezes, a pessoa que sofre de atelofobia acredita que precisa ser "perfeita" para ser aceita, para ser amada, ou até para ser reconhecida no trabalho. E essa busca pela perfeição, que nunca chega, acaba se tornando um peso esmagador.
Em um mundo onde as redes sociais nos bombardeiam com imagens de pessoas que parecem ter tudo – corpo perfeito, carreira de sucesso, vidas aparentemente sem falhas – fica fácil entender de onde vem esse medo. Somos constantemente comparados a padrões irreais, e isso mina nossa confiança e autoestima. E muitas vezes, esse medo cresce como uma resposta a essa pressão para sermos mais, fazermos mais, termos mais.
E disso eu entendo muito bem…
Desde criança, quando minha letra nunca era tão bonita quanto a da menina da fileira da frente. Quando minhas pernas não corriam rápido o suficiente na educação física, e minha voz nunca parecia alcançar a nota certa nas apresentações da escola. Cresci tentando compensar. Tentando ser mais. Mais inteligente, mais engraçada, mais magra, mais forte, mais qualquer coisa que me fizesse sentir suficiente.
Mas o suficiente nunca chegava.
Olhava no espelho e sempre faltava algo. Um detalhe, um traço, um brilho que talvez outras tivessem, mas eu não. Comparava-me com rostos que nunca seriam o meu, corpos que nunca seriam o meu, vidas que nunca seriam a minha. Cada conquista vinha acompanhada de um suspiro e um pensamento cruel: "Você podia ter feito melhor, fulana conseguiu e você não".
E talvez essa seja a maior armadilha de todas. A crença de que a gente só merece amor, respeito e felicidade depois que for perfeita. Depois que perder aqueles quilos, conseguir aquele emprego, encontrar alguém que nos escolha sem hesitar, entrar na faculdade dos sonhos, ter o boletim com as notas mais altas da sala, ser a amiga mais bonita, mais legal…
Como se a gente só pudesse existir por inteiro depois de cumprir todos os requisitos de uma lista invisível que nunca acaba.
Cada ato meu vira assunto para especulação, cada palavra dita vira uma sentença. As coisas que deixo de fazer são analisadas, as que faço são julgadas. E no meio de tudo isso, eu me sinto como um livro que ninguém termina de ler, por ser denso, incompreendido, cansativo. Eu sou, talvez, o reflexo de um olhar apressado que nunca se dá o trabalho de entender a profundidade de quem eu realmente sou.
Mas hoje, aos poucos, estou tentando me reescrever.
Tentando me olhar com a mesma gentileza com que olho para as pessoas que amo. Tentando me permitir errar sem transformar isso em uma sentença. Tentando aceitar que ser imperfeita não me faz menos digna, menos valiosa. Tentando entender que eu não sou um rascunho inacabado à espera de validação, mas sim uma história inteira que merece ser lida, vivida e sentida.
Talvez eu nunca me sinta completamente boa o bastante. Talvez, no fundo, a minha imperfeição seja, na verdade, a maior perfeição que eu consegui alcançar. Mas, pela primeira vez, começo a acreditar que ser quem sou já é suficiente. Já basta.
até domingo que vem:)
Eu queria que você pudesse ver minha verdadeira natureza... Para além do meu corpo e dos rótulos, há um rio de ternura e vulnerabilidade. Para além dos estereótipos e das suposições, há um vale de franqueza e autenticidade. Para além da memória e do ego, há um oceano de consciência e compaixão.
jealousy, jealousy - Song by Olivia Rodrigo ‧ 2021